Durante décadas, o papel dos fabricantes de máquinas parecia claro. Entregar o equipamento, garantir que ele funcionasse dentro de padrões aceitáveis e, no máximo, prestar algum suporte pontual no pós-venda. Essa lógica funcionou bem até que o mercado mudou.
A previsibilidade deu lugar à flexibilidade, e os compradores deixaram de ver valor em simplesmente “ter” uma máquina. Eles querem resultado garantido, performance contínua e menos risco na operação.
É nesse contexto que surge o Machines as a Service (MaaS), um modelo de negócios que transforma o equipamento em serviço. Nele, o cliente não compra a máquina. Ele contrata o uso, paga pelo desempenho e espera disponibilidade, eficiência e suporte ativo. O fabricante, por sua vez, deixa de ser apenas fornecedor e passa a ser responsável direto pelo desempenho da máquina no cliente.
Essa virada é profunda. E não se trata de tendência futura. O MaaS já está sendo adotado por empresas em vários segmentos e vem ganhando espaço de forma consistente, especialmente em mercados mais maduros e setores com alta demanda por flexibilidade operacional.
Para os fabricantes de máquinas, o desafio é claro: como se preparar para esse novo modelo sem comprometer a operação atual? A resposta passa, inevitavelmente, pela manufatura digital.
O que muda com o MaaS
No modelo tradicional, o foco estava na entrega da máquina. Depois da venda, o relacionamento entre fabricante e cliente se tornava esporádico, geralmente acionado por necessidade de peças ou assistência técnica.
No MaaS, essa lógica se inverte. A receita vem do uso contínuo e, portanto, manter a máquina operando é parte central do negócio.
Isso exige que o fabricante consiga:
- Acompanhar em tempo real o funcionamento da máquina no cliente;
- Antecipar falhas e realizar manutenção antes que elas afetem a produção
- Avaliar indicadores de performance como rendimento, consumo energético ou taxa de disponibilidade;
- Cobrar com base em dados auditáveis, seja por hora de uso, produção entregue ou eficiência mantida.
A máquina passa a ser um ativo vivo e conectado, cuja operação precisa ser gerenciada com a mesma atenção que se dá a um software SaaS. E para isso, é fundamental digitalizar o ciclo de vida do produto — antes, durante e depois da entrega.
O papel do iIoT: conectividade como estrutura de sustentação
A fundação tecnológica do MaaS está no Industrial Internet of Things (iIoT). Trata-se da aplicação de sensores, conectividade e processamento de dados em tempo real a ativos industriais.
No caso dos fabricantes de máquinas, isso significa projetar e entregar equipamentos capazes de coletar, transmitir e processar informações operacionais continuamente.
Esses dados — como temperatura, vibração, consumo, ciclos, falhas — são capturados em tempo real e enviados para a nuvem, onde são analisados por sistemas inteligentes que identificam anomalias, antecipam paradas, calculam desempenho e recomendam ajustes.
O iIoT transforma a máquina em fonte ativa de informação, permitindo que o fabricante monitore sua frota instalada mesmo a milhares de quilômetros de distância.
E mais do que um diferencial tecnológico, o iIoT é o que torna viável economicamente o modelo MaaS. Sem dados precisos e atualizados, não é possível calcular uso, garantir performance ou estruturar contratos com base em metas reais. O iIoT é, portanto, o elo entre a engenharia da máquina e o modelo de negócios baseado em serviço.
SCADA e o controle em tempo real
Enquanto o iIoT coleta dados e permite análises, o sistema SCADA (Supervisory Control and Data Acquisition) entra como ferramenta de supervisão e controle. Ele fornece painéis de visualização em tempo real que permitem acompanhar a operação da máquina em campo, identificar desvios instantaneamente e intervir quando necessário.
No modelo MaaS, isso representa mais do que controle técnico — representa confiança. Ao oferecer visibilidade operacional, o fabricante mostra ao cliente que há supervisão ativa, comprometimento com a entrega e capacidade de resposta. SCADA não é apenas uma interface: é o instrumento que viabiliza a entrega do que foi prometido em contrato.
Além disso, soluções SCADA modernas permitem aplicar lógicas automatizadas: se a vibração ultrapassar um limite, um técnico é notificado; se a eficiência cair abaixo de 90%, uma recomendação de manutenção é gerada. Isso amplia a capacidade de oferecer serviços como manutenção preditiva, performance garantida e faturamento por uso real, que são pilares do MaaS.
Mais do que evitar problemas, essa inteligência cria oportunidades de inovação. É possível oferecer novos pacotes de serviço, atualizações sob demanda e contratos com níveis diferentes de suporte, tudo com base no uso real da máquina.
MaaS exige integração de sistemas e pensamento de ciclo de vida
Para que tudo isso funcione, não basta conectar sensores ou adotar um SCADA isoladamente. O modelo MaaS depende de integração plena entre engenharia, produção, operação e pós-venda. A máquina precisa nascer conectada, ser fabricada com rastreabilidade, ser implantada com sistemas de supervisão e ser acompanhada com inteligência de dados.
Isso exige uma abordagem de manufatura digital, em que as informações fluem entre sistemas como PLM, MOM e automação industrial, formando um ecossistema capaz de criar e gerenciar um gêmeo digital do equipamento, que pode ser acompanhado ao longo de toda sua vida útil.
Isso permite, por exemplo:
- Testar virtualmente a máquina antes da fabricação (reduzindo riscos);
- Produzir com rastreabilidade e controle de qualidade integrados;
- Implantar a máquina já preparada para se comunicar com sistemas de monitoramento;
- Registrar e analisar seu desempenho no cliente, retroalimentando melhorias no projeto.
Esse ciclo fechado, que vai do projeto à operação contínua, é a base real para explorar o MaaS com segurança e previsibilidade. É isso que transforma o fabricante em um parceiro estratégico, e não apenas em um fornecedor de ativos.
Quem se antecipa à transformação, lidera o novo modelo industrial
Esperar pode parecer confortável, mas o mercado não está parado. Startups industriais, fabricantes de nicho e até concorrentes tradicionais já começaram a adotar modelos MaaS. Muitos operam com contratos ativos, receitas recorrentes e uma base instalada de máquinas conectadas em crescimento. Quem se movimenta primeiro, aprende mais rápido e ocupa espaço antes dos demais.
E não se trata de implantar tudo de uma vez. O caminho começa com a digitalização dos novos projetos, a inclusão de conectividade básica nas máquinas entregues e a implementação de automação e plataformas digitais em alguns clientes. A partir daí, é possível avaliar o retorno com contratos-piloto baseados em uso ou performance.
O importante é sair da lógica puramente transacional e começar a construir, desde agora, um modelo de negócio orientado a dados, serviços e valor contínuo. A oportunidade não é apenas futura. Ela já está em operação nas empresas que souberam enxergar além da máquina.
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Nosso foco está na manufatura digital, com expertise em PLM, MES/MOM e APS, ajudando empresas a estruturar seus processos, conectar engenharia e produção, planejar operações com mais eficiência e preparar suas fábricas para modelos mais avançados de negócios, como o MaaS.
Nosso papel é facilitar a adoção da manufatura digital de forma pragmática, realista e orientada a resultados. Se sua empresa quer se preparar para o modelo MaaS, nós podemos ajudar a transformar esse caminho em realidade.
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