
A nova configuração do supply chain combina escala global e resiliência local, apoiada em digitalização e inteligência operacional.
Durante décadas, prevaleceu a ideia de que expandir cadeias de suprimento em escala global era sinônimo de competitividade. Produzir em países com menor custo, transportar insumos por longas rotas marítimas e centralizar fornecedores em regiões estratégicas parecia ser a fórmula perfeita. Essa visão, no entanto, mostrou fragilidades diante de crises recentes e da crescente pressão por eficiência, agilidade e sustentabilidade.
Ao mesmo tempo, apostar apenas em cadeias locais também tem seus limites. Custos mais altos, perda de escala e restrição ao acesso a tecnologias globais podem comprometer o posicionamento das empresas em mercados altamente competitivos. É nesse ponto que surge o modelo híbrido: as cadeias de suprimento “glocais”, capazes de equilibrar a eficiência da globalização com a segurança da produção local.
Esse movimento não é apenas uma tendência. Ele responde a mudanças estruturais na economia mundial, ao comportamento do consumidor e às exigências de novos padrões regulatórios. Cada vez mais, a agilidade para atender demandas regionais precisa caminhar junto com a eficiência de custos obtida em grandes polos de produção.
Do global ao local: lições de crises recentes
Por muito tempo, o supply chain global foi símbolo de eficiência. Mas crises sucessivas expuseram sua vulnerabilidade.
- A pandemia de Covid-19 paralisou fábricas inteiras e elevou o custo do frete marítimo em até quatro vezes. O tempo médio de entrega de insumos críticos chegou a dobrar em diversos setores industriais.
- O bloqueio do Canal de Suez, em 2021, mostrou como um incidente localizado pode travar cadeias globais por semanas, atrasando navios e encarecendo fretes.
- A escassez de semicondutores afetou setores inteiros, com impacto bilionário no automotivo e no eletroeletrônico. Montadoras pararam linhas, e fabricantes de celulares e notebooks atrasaram lançamentos globais.
- Medidas protecionistas, como tarifas de importação nos EUA, adicionaram custos e incertezas, alterando contratos de fornecimento e forçando empresas a repensarem seus mercados de origem.
Esses episódios deixaram claro que depender exclusivamente de cadeias longas é arriscado. Por outro lado, uma estratégia restrita ao local pode resultar em preços menos competitivos e incapacidade de atender grandes volumes.
O caminho está em encontrar o meio-termo: redes “glocais” que combinam fornecedores internacionais estratégicos com parcerias locais de resposta rápida.
O que significa ser “glocal”, na prática?
Ser “glocal” não é apenas dividir a produção entre dentro e fora do país. É desenhar uma rede inteligente, na qual fornecedores internacionais estratégicos convivem com parceiros locais que garantem flexibilidade e resiliência.
Isso se traduz em quatro pilares práticos:
- Diversificação de fornecedores: empresas contratam parceiros globais de alto volume, mas cultivam alternativas regionais para itens complementares.
- Regionalização de estoques: hubs próximos aos mercados consumidores reduzem prazos de entrega e evitam rupturas.
- Flexibilidade produtiva: linhas de produção podem ser transferidas entre plantas de diferentes regiões conforme a demanda.
- Integração tecnológica: ferramentas digitais garantem que todas as partes da cadeia operem de forma sincronizada.
Exemplos reais:
- Automotivo: montadoras importam eletrônicos de alta complexidade da Ásia, mas trabalham com fornecedores locais para peças de menor valor agregado, como estofados e vidros. Isso reduz riscos sem perder escala.
- Eletroeletrônicos: fabricantes trazem semicondutores de grandes polos globais, mas equilibram com fornecedores regionais de cabos, conectores e plásticos. Assim, um atraso de contêiner não paralisa a fábrica inteira.
- Eletrodomésticos: empresas mantêm fornecedores globais de motores e compressores, mas desenvolvem parcerias locais para componentes plásticos e metálicos, garantindo maior rapidez de reação às variações de demanda.
O papel do supply chain digital no modelo “glocal”
Adotar uma rede “glocal” exige mais do que novos contratos de fornecimento. É necessário visibilidade em tempo real e capacidade de simular cenários. Isso só é possível com a digitalização.
Previsão de demanda com software de Forecast
Uma ferramenta de Forecast permite projetar a demanda futura considerando sazonalidades, histórico de consumo e tendências do mercado. Essa previsibilidade é essencial para planejar compras e estoques, equilibrando o que vem de fornecedores globais e o que pode ser ativado regionalmente.
Planejamento e programação avançados com APS
Soluções de Planejamento e Programação Avançados da Produção, APS, possibilitam refinar as informações vindas da previsão de demanda (forecast), levando em conta o cenário fabril real e, em seguida, sequenciar ordens de produção considerando múltiplas restrições: capacidade de máquinas, disponibilidade de materiais, prazos de entrega.
No contexto “glocal”, isso significa decidir se a produção será concentrada em uma planta global ou distribuída em fábricas regionais, de acordo com custos, prazos e estoques.
Com o APS, a indústria pode reduzir setups e estoques, otimizar recursos e garantir prazos mesmo diante de rupturas internacionais.
Integração ponta a ponta
Quando Forecast e APS se integram, a cadeia deixa de ser fragmentada. Todos os setores — compras, PPCP, logística e vendas — trabalham com a mesma base de dados. Isso cria uma visão única do supply chain, essencial para reagir rapidamente a imprevistos.
Para se aprofundar nesse tema e entender, na prática, como estruturar processos mais inteligentes e coordenados, recomendamos a leitura do nosso e-book gratuito: Planejamento da Produção em uma Cadeia de Suprimentos Complexa.
Benefícios estratégicos das cadeias “glocais”
Empresas que avançam para esse modelo relatam benefícios claros:
- Resiliência ampliada: cadeias regionais complementam rotas globais em crises.
- Eficiência de custos: equilíbrio entre fornecedores internacionais de menor preço e locais de resposta rápida.
- Sustentabilidade: reduzir distâncias logísticas significa menos emissões de CO₂.
- Flexibilidade de mercado: atender demandas específicas de cada região sem comprometer a escala global.
- Competitividade de longo prazo: menos dependência de fatores externos imprevisíveis.
“Glocal”: o futuro das cadeias de suprimento
A globalização trouxe escala e eficiência, mas também vulnerabilidades. A produção local garante proximidade e segurança, mas perde força diante dos custos. O modelo “glocal” surge como o equilíbrio necessário para um mercado cada vez mais volátil.
Com o apoio da digitalização e de soluções como o Forecast Pro e o Opcenter APS da Siemens, empresas conquistam capacidade de decisão em tempo real, ajustando estoques, compras e produção de forma coordenada. Mais do que tendência, trata-se de uma estratégia essencial para indústrias que buscam competitividade sustentável.